Dê uma chance a nossos quadrinhos alternativos: Kaonashi.
Meu contato com o mundo dos animes e mangás começou relativamente tarde quando eu já fazia faculdade. Mas como sempre tive a mente aberta para esse tipo de mídia, li alguns mangás e vi animes que realmente me empolgaram. Mais recentemente me deparei com Gen, pés descalços, um mangá que se passa em volta dos acontecimentos e efeitos da bomba de Hiroshima, e por ser muito elogiado, narrar uma história que sempre tive interesse (eu gosto muito de História, e a Segunda guerra é um dos acontecimentos mais impressionantes) resolvi lê-lo.
Meu contato com o mundo dos animes e mangás começou relativamente tarde quando eu já fazia faculdade. Mas como sempre tive a mente aberta para esse tipo de mídia, li alguns mangás e vi animes que realmente me empolgaram. Mais recentemente me deparei com Gen, pés descalços, um mangá que se passa em volta dos acontecimentos e efeitos da bomba de Hiroshima, e por ser muito elogiado, narrar uma história que sempre tive interesse (eu gosto muito de História, e a Segunda guerra é um dos acontecimentos mais impressionantes) resolvi lê-lo.
A estória começa em 1945, antes da bomba de Hiroshima ser lançada.
Acompanha, Gen, um menino de 6 anos e sua família. Com o Japão ainda recusando
a derrota na guerra, uma população iludida sobre a glória e vitória japonesa e também
sobre o caráter “demoníaco” dos ocidentais (principalmente norte-americanos, e
de certa forma, nesse ponto da guerra, talvez eles se tornem “vilões” mesmo),
os civis em Hiroshima, além de ameaças e bombardeios, enfrentam falta de
alimentos e outros bens de consumo básicos. A família de Gen, ainda tem outros problemas, pois seu pai,
diferente da maioria, é contra a guerra, e por isso é tido como anti-patriota. Assim, Gen, seus irmãos, sua mãe e seu pai,
sofrem pela falta de ajuda dos vizinhos, além de serem surrados, xingados e
molestados nas ruas e escola.
Quando a bomba é lançada, a tragédia realmente acontece.
Gen, o garoto de caráter forte, se vê cercado de tristeza, dificuldades e tem
que lutar pela sua sobrevivência e a da família que restou. Os desenhos de pessoas “derretendo”, com a
pele caindo, queimadas ou com objetos no corpo realmente impressionam, mais
ainda se considerar que essa é uma história pseudo-biográfica, já que seu autor
é realmente um sobrevivente da bomba de Hiroshima.
Talvez mais até do que os efeitos imediatos, ou as doenças
causadas pela bomba (que começam a aparecer no decorrer da narrativa), uma das
coisas mais cruéis é a grande falta de solidariedade vista no povo. È triste
pensar que a maioria dos sobreviventes, os desabrigados de Hiroshima não
tiveram ajuda, ao contrário, algumas mulheres foram estupradas (por soldados
inimigos ou pelo seu próprio povo), tiveram seus filhos seqüestrados e mortos.
Os sobreviventes viraram andarilhos, e morriam de fome, frio, doenças, sem
ajuda, pois a maioria da população tinha medo de chegar perto, achavam que se os
ajudassem estariam se prejudicando e etc.
Sem contar na própria violência e luta
pela sobrevivência entre eles.
Uma coisa interessante na narrativa é justamente isso. Os japoneses
não são retratados como vítimas boazinhas, que receberam uma bomba na cabeça, e
sim cheios de defeitos, talvez até com culpa. Os norte-americanos não são só os
demônios que lançaram a bomba, ou totalmente culpados por ela. Mas não se deixa
de mostrar a hipocrisia da situação, pois depois dos EUA lançarem a bomba,
matarem milhares de forma horrível, seus soldados vão para o Japão para selar a
“paz”, levar “ajuda”. E nisso, jogam
chicletes para crianças e usam as japonesas como prostitutas. È como pisar no inimigo abatido, né?
Além disso, algumas situações e personagens são bem
idealizados, pois mesmo cometendo transgressões e possuindo defeitos como Gen,
é como se o autor tomasse uma licença poética e não considerasse esses defeitos
importantes, já outros que estavam em situações “melhores” eram tidos como
completamente maus, sendo que seus lados maus eram até “aumentados” e as
qualidades quase inexistentes.
Mas considerando as
situações e personagens, no fim, é uma obra bem contundente, e acredito que
próxima da realidade, chocante em vários momentos, mostra horrores da guerra e da bomba. È algo que não deve ser esquecido e não pode
acontecer nunca mais. Tem suas partes engraçadas, mas no fim é uma estória realmente
triste e devastadora. Por ser um mangá,
pode imaginar que foi feito para crianças, mas essa não é a minha
visão. Gen pode ser lido por crianças
sim, mas adultos também, e talvez esses últimos consigam aproveitar a obra mais
que os primeiros.
Nesse quesito, esse mangá conseguiu um feito. Minha mãe gosta
bastante de História, mas é daquelas pessoas que torcem o nariz para desenhos
animados, quadrinhos e mangás. Quantas
vezes, ela me disse que eu tinha que “crescer”, e parar de ler quadrinhos e ver
desenhos animados? Pois é. Um dia, tomei um susto quando a vi lendo Gen. E olha
que não fui eu que ofereci, ela simplesmente pegou na prateleira e começou a
ler. Pediu até ajuda a minha irmã sobre como ler um mangá ( direita para
esquerda, ok?), e disse que começou a
ler pois se tratava da bomba de Hiroshima. Quem não conhece minha mãe, não tem idéia
do feito, Gen fez minha mãe ler mangá. Nossa! Hahaha!
“Gen” é uma ótima história e realmente vale a pena ser lida.
Recentemente foi republicada pela Conrad no Brasil (em 4 volumes). Assim, nem é difícil conseguir as revistas. E eu realmente a indico para todos, até mesmo
aqueles não habituados a mangá, pois
a história tem potencial de cativar até esse público.
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