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domingo, 19 de agosto de 2012

Gen, Pés Descalços- A bomba atômica de Hiroshima

Dê uma chance a nossos quadrinhos alternativos: Kaonashi.
 Meu contato com o mundo dos animes e mangás começou relativamente tarde quando eu já fazia faculdade.  Mas como sempre tive a mente aberta para esse tipo de mídia, li alguns mangás e vi animes que realmente me empolgaram.  Mais recentemente me deparei com Gen, pés descalços, um mangá que se passa em volta dos acontecimentos e efeitos da bomba de Hiroshima, e por ser muito elogiado, narrar uma história que sempre tive interesse (eu gosto muito de História, e a Segunda guerra  é um dos acontecimentos mais impressionantes) resolvi  lê-lo.
A estória começa em 1945, antes da bomba de Hiroshima ser lançada. Acompanha, Gen, um menino de 6 anos e sua família. Com o Japão ainda recusando a derrota na guerra, uma população iludida sobre a glória e vitória japonesa e também sobre o caráter “demoníaco” dos ocidentais (principalmente norte-americanos, e de certa forma, nesse ponto da guerra, talvez eles se tornem “vilões” mesmo), os civis em Hiroshima, além de ameaças e bombardeios, enfrentam falta de alimentos e outros bens de consumo básicos. A família de Gen,  ainda tem outros problemas, pois seu pai, diferente da maioria, é contra a guerra, e por isso é tido como anti-patriota.  Assim, Gen, seus irmãos, sua mãe e seu pai, sofrem pela falta de ajuda dos vizinhos, além de serem surrados, xingados e molestados nas ruas e escola.
Quando a bomba é lançada, a tragédia realmente acontece. Gen, o garoto de caráter forte, se vê cercado de tristeza, dificuldades e tem que lutar pela sua sobrevivência e a da família que restou.  Os desenhos de pessoas “derretendo”, com a pele caindo, queimadas ou com objetos no corpo realmente impressionam, mais ainda se considerar que essa é uma história pseudo-biográfica, já que seu autor é realmente um sobrevivente da bomba de Hiroshima.
Talvez mais até do que os efeitos imediatos, ou as doenças causadas pela bomba (que começam a aparecer no decorrer da narrativa), uma das coisas mais cruéis é a grande falta de solidariedade vista no povo. È triste pensar que a maioria dos sobreviventes, os desabrigados de Hiroshima não tiveram ajuda, ao contrário, algumas mulheres foram estupradas (por soldados inimigos ou pelo seu próprio povo), tiveram seus filhos seqüestrados e mortos. Os sobreviventes viraram andarilhos, e morriam de fome, frio, doenças, sem ajuda, pois a maioria da população tinha medo de chegar perto, achavam que se os ajudassem estariam  se prejudicando e etc.  Sem contar na própria violência e luta pela sobrevivência entre eles.
Uma coisa interessante na narrativa é justamente isso. Os japoneses não são retratados como vítimas boazinhas, que receberam uma bomba na cabeça, e sim cheios de defeitos, talvez até com culpa. Os norte-americanos não são só os demônios que lançaram a bomba, ou totalmente culpados por ela. Mas não se deixa de mostrar a hipocrisia da situação, pois depois dos EUA lançarem a bomba, matarem milhares de forma horrível, seus soldados vão para o Japão para selar a “paz”, levar “ajuda”.  E nisso, jogam chicletes para crianças e usam as japonesas como prostitutas.  È como pisar no inimigo abatido, né?
Além disso, algumas situações e personagens são bem idealizados, pois mesmo cometendo transgressões e possuindo defeitos como Gen, é como se o autor tomasse uma licença poética e não considerasse esses defeitos importantes, já outros que estavam em situações “melhores” eram tidos como completamente maus, sendo que seus lados maus eram até “aumentados” e as qualidades quase inexistentes.
 Mas considerando as situações e personagens, no fim, é uma obra bem contundente, e acredito que próxima da realidade, chocante em vários momentos,  mostra horrores da guerra e da bomba.  È algo que não deve ser esquecido e não pode acontecer nunca mais. Tem suas partes engraçadas, mas no fim é uma estória realmente triste e devastadora. Por ser um mangá,  pode imaginar que foi feito para crianças, mas essa não é a minha visão.  Gen pode ser lido por crianças sim, mas adultos também, e talvez esses últimos consigam aproveitar a obra mais que os primeiros. 
Nesse quesito, esse mangá conseguiu um feito. Minha mãe gosta bastante de História, mas é daquelas pessoas que torcem o nariz para desenhos animados, quadrinhos e mangás.  Quantas vezes, ela me disse que eu tinha que “crescer”, e parar de ler quadrinhos e ver desenhos animados? Pois é. Um dia, tomei um susto quando a vi lendo Gen. E olha que não fui eu que ofereci, ela simplesmente pegou na prateleira e começou a ler. Pediu até ajuda a minha irmã sobre como ler um mangá ( direita para esquerda, ok?), e  disse que começou a ler pois se tratava da bomba de Hiroshima. Quem não conhece minha mãe, não tem idéia do feito, Gen fez minha mãe ler mangá. Nossa! Hahaha!
“Gen” é uma ótima história e realmente vale a pena ser lida. Recentemente foi republicada pela Conrad no Brasil (em 4 volumes).  Assim, nem é difícil conseguir as revistas.  E eu realmente a indico para todos, até mesmo aqueles não habituados a mangá,  pois a  história  tem potencial  de cativar até esse público.

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