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domingo, 11 de março de 2012

Reis e Ratos

 Há alguns dias vi o filme nacional Reis e Ratos no cinema. Saí com um sorriso no rosto. E com o pensamento de que eu realmente tinha gostado e achado criativo. Mas tinha percebido algo,  não era um filme para todos. Era preciso entender o contexto (as citações, quem homenageavam, quem zuavam, e etc), as piadas, embarcar na sua história, que mais parecia uma brincadeira, algo que foi feito para os seus envolvidos se divertirem, ou seja, era necessário um conhecimemto prévio (não que seja preciso ler livros e mais livros para assistí-lo, mas muita da graça está em suas referências que não são tão triviais). Depois olhei  as críticas. Li diversas, a maioria colocando o filme abaixo de lixo. E umas poucas elogiando-o com bastante entusismo. È, ele realmente causou reações extremas, e dividiu opiniões. Assim descobri o meu engano,  não era não filme para todos, é um filme para poucos.
Reis e ratos se passa  nos anos 63/64, começa com Amélia ( Rafaela Mandelli), uma cantora que está prestes a fazer  uma  apresentação no interior do Rio,  ao escutar no rádio o locutor Hervê (Cauã Reymond) dizendo que uma bomba irá explodir no local da sua apresentação, ela se salva. E a trama envolta nesse atentado é mostrada através de um longo flashblack (em preto-e-branco, homenagem aos estilos de filmes noir e policiais antigos), o que envolve diversos personagens como o espião da CIA e apaixonado pelo Brasil, Troy Somerset (Selton Mello) e seu comparsa brasileiro, Major Esdras (Otávio Muller), o vagabundo Roni Rato (Rodrigo Santoro), mais alguns militares, um fazendeiro rico, mais espiões, o presidente, dentre outros. Troy que gosta de viver no Brasil, acaba "traindo" a sua pátria e sua agência, e tenta impedir um golpe militar, apoiado pelos norte-americanos,  para tirar o presidente brasileiro do poder.
Pela sinopse, o filme parece ser bem sério, não? Eu fui assistir achando isso. Haha. Mas na verdade, se trata de uma sátira política, recheada de referências e homenagens á gêneros de filmes antigos (policiais, espionagem, noir), dublagem antigas, locuções de rádio, e etc. Algo que traz  uma visão de como essa luta pelo poder pode ser medícre, rídicula e bem engraçada. Tudo no filme é feito com exagero, da trama confusa, quase sem nexo, ou surrealista, a atuações e vozes forçadas. Cauã Reymond e seu radialista de voz fanha e esquisita, e sexualidade duvidosa, é algo muito interessante, nem parece o galã das novelas da Globo. Selton Mello também se desconstrói, em vez de usar um sotaque estrangeiro, faz uma voz que parece a dublagem de um policial de filme B antigo . Outro totalmente diferente é Rodrigo Santoro, o seu personagem viciado em anfetaminas, é nojento, da personalidade ao aspecto físico. É impressionante como conseguiu mudar tanto, e eu não achei a sua  maquiagem  falsa. Assim quem for esperando ver os galãs  "lindos" na tela, é melhor não ir. Eles estão totalmente diferentes.
Não podem esperar também ver uma história com muito nexo. O objetivo não me pareceu ser esse, as falas são sim, inteligentes e interessantes, algumas piadas são muito bem compostas, eu  por exemplo ficaria mais tempo escutando as conversas do Major Esdras e Troy, que são deliciosas, críticas, os dois batem papo como amigos de longa data. A trama parece usar de propósito os personagens e estórias clichês, e de forma bem exagerada, tudo parece tão incrivelmente forçado, que a credibilidade não importa, e explicar bem as suas reviravoltas e alguns elementos da trama não parece ser o propósito. O próprio filme diz ser uma opereta mal escrita, ou que é vítima dos  próprios clichês. Não é para ser levado tão a sério. Imagino que deve ter sido muito divertido para todos fazê-lo pois os atores pareciam brincar com suas imagens e seus personagens. E o tudo foi feito em poucos dias e com cenários aproveitados de outra produção.
Podem dizer que o golpe militar é algo muito sério para zombar. E que  Reis e Ratos tenha fracassado nisso. Mas isso me parece uma bobagem. Sátira políticas tem que tocar em temas delicados, pois caso contrário, aí sim será algo vazio, qual é o propósito de brincar com uma coisa comum e simples, sem reflexões?  Não sou do tipo que gosta de comédias bobocas e com personagens idiotas, ou mesmo que gosta de programas de humor fácil. Uma das minhas comédias preferidas (uma sátira) é justamente "O grande ditador", e nele Chaplin brinca com um tema bem espinhoso, o nazismo. Se ele pôde zombar e fazer um grande filme com a figura de Hitler, por que os brasileiros não podem com o golpe militar? Isso para mim, mostra qualidade, em vez de defeitos.
Gostei bastante. Ri e me diverti muito. Achei o filme um sopro de criatividade do cinema. E para mim ele conseguiu atingir o que se propôs. È tudo uma grande brincadeira, mas o público tem que entender de certos assuntos, e ainda está disposto a embarcar nela. Por isso, reiteiro, é um filme para poucos, somente certas pessoas conseguirão aproveitá-lo. Uns gostarão bastante e outros nem conseguirão ficar até o fim da sessão. E não há nada de errado em nenhum desses comportamentos.  Resta saber, quem são os poucos  para quem essa trama maluca é indicada e os muitos para quem não é.
--> Quem gostou dessa postagem pode se interessar por: O Grande ditador.

2 comentários:

  1. Só em ver o trailer fiquei com vontade de assistir, Cíntia, porém a falta de tempo me impediu.
    Só pela sua resenha, devo imaginar que sou um daqueles que se interessaria pelo filme.
    Me lembrou da forma como o Tarantino faz seus filmes. Não importa se é clichê, se parece ser sentido. O que importa é divertir o espectador!

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    1. Bem, então se você entende da onde as citações e piadas foram tiradas, e consegue embarcar nesse tipo de proposta do filme, é uma boa indicação para você. Pois como eu disse para quem não entende o filme pode parecer chato (entretanto foi diferente para mim, já que embarquei na proposta, me diverti bastante). Ahh, espero que consiga ver o filme e que se divirta.

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