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domingo, 12 de fevereiro de 2012

The Hustler e A cor do dinheiro

Há algum tempo eu estava procurando bons filmes de Paul Newman para ver e me deparei com a seguinte indicação, The Hustler ( Desafio à corrupção no Brasil, título pelo qual eu me recuso a chamar, já que não tem muita relação com o filme e nem com o título original, que seria algo similar à "O vigarista", "O trapaceiro" ou algo do gênero e  que realmente condiz com a história). Tirando a tradução bizarra brasileira,  já não há desafios a corrupção, pelo menos não como trajetória do filme, e o seu tema de fundo, o mundo das apostas, da sinuca e seus correlatos, que não me atrai tanto ( não sei quase nada sobre o esporte), resolvi dar uma chance por causa de comentários positivos. E não me arrependi, esse foi um filme que coloquei para assistir após a meia noite, quando não tinha nada para fazer, com aquela ideia de ver alguns minutos para o sono vir, desligar e dormir. Mas após minutos, eu não fui dormir, já estava  vidrada, e vi até o fim, desafiando a madrugada. Hahah. Realmente é um ótimo filme.
The Hustler foi lançado em 1961, com fotografia em preto-e-branco. Sua trama acompanha o vigarista jogador de sinuca, Eddie Felson, que realmente tem muito talento, mas o usa para tirar dinheiro de jogadores amadores. Em certo ponto, Eddie enfrenta Minnesota Fats, considerado o melhor jogador de sinuca, e apesar de começar ganhando, perde todo o seu dinheiro após várias horas de jogo. Duro, sem empresário, e com orgulho ferido, Eddie tenta juntar dinheiro para enfrentar "Fats" novamente e recuperar a sua confiança. Nesse período, conhece e envolve-se com Sarah, uma alcoólatra, que o faz crescer como pessoa, e conhecer o "caráter" necessário para certas vitórias.
A maior parte do filme se passa em ambientes fechados, e muitos desses em salões de sinucas e bilhar. Assim, o esporte é bastante visto, mas para quem não entende muito sobre ele, não faz tanta diferença,  pois o jogo e as bolas aparecem, sim, mas o principal foco, ou melhor, o mais interessante são os seus personagens. Dos "mocinhos " aos "vilões", todos são densos e bem construídos, assim como o roteiro que os guia. Veja Eddie, com suas trapaças, sua inconsequência, sua "falta" de caráter, mas que quer provar que  pode ganhar do "melhor", e isso é até  um belo ideal, tornando o bem atraente (Paul Newman nos anos 60, também ajuda nisso, né?hahaha), o que me fez torcer por ele. Então há o seu encontro em uma rodoviária, com a bela, mas manca, a culta, mas bêbada, Sarah, que é de certa forma uma espécie de consciência de Eddie e que o faz crescer. Os diálogos entre dois são ótimos e profundos, passando por amor, verdade, vida, caráter e sexo. Quando Eddie se associa a Bert Gordon, ela vê que seu companheiro está prestes a perder a  alma, o alerta, e em ações contraditórias, acaba fazendo-o adquirir um certo caráter. Uma das minhas conversas preferidas entre dois, é onde Sarah conta toda a verdade sobre ela, fala de ilusões e demonstra todo seu medo em relação a Eddie. È um diálogo impressionante e verdadeiro.
Outro personagem bem interessante, é o "diabo" Bert Gordon, que vendo o talento de Felson, acaba se tornando o seu "empresário", ficando com a maior parte do lucro de suas vitórias. Bert é muito rico, não joga sinuca, mas ganhou bastante dinheiro apostando no esporte, e ao ver Eddie, acaba aliciando-o, "corrompendo" mais ainda a sua alma já bem corrompida. Ele e Eddie também tem conversas bem interessantes, como a relativa ao caráter que faltava a Eddie para ganhar de Fats, pois depois de mais de 24 horas de jogo, Fats ainda estava inteiro, de aspecto íntegro e limpo, enquanto Felson estava bêbado com sono, aspecto sujo, mal conseguia ficar em pé. Essa distinção (caráter) de Fats era o que faltava em Eddie e foi isso que o levou a derrota, segundo Bert. A grande pergunta é se Eddie conseguiria isso, saindo vitorioso em um jogo com Minnesota Fats.
Complexo, poderoso e inquietante, The Hustler é um baita filme. Sem cenas de nudez e sexo explícito, como um filme dos anos 60, mas com muitas insinuações, conseguindo montar algo muito mais poderoso e sujo do que a maioria das imagens explícitas dos filmes atuais. Mostra como realmente um bom roteiro faz a diferença,  e o tem um grande poder.
The Hustler é um filme completo, bem fechado, e com um grande impacto. Tive uma certa surpresa ao descobrir que ele teve uma "continuação". Pois é, 25 anos depois (um quarto de século!) , em 1986, Eddie Felson volta interpretado mais uma vez por Paul Newman (que finalmente ganhou um oscar) em "A Cor do dinheiro".
Eddie  não joga  há muitos anos, tem uma boa situação financeira, é como se tivesse tornado alguém similar a Bert Gordon. Ele conhece Vincent Laurie (Tom Cruise, ainda na fase de garotão), um talentoso jogador, bem exibicionista e impulsivo, e se vira o seu "mestre", ensinando trapaças para encher o bolso de ambos. No entanto, ele acaba se aproximando do jogo que ama e resolve voltar a jogar.
O personagem de Tom Cruise não me atraiu muito, mas também ficar à sombra de Eddie Felson/ Paul Newman não é mole, haha, o interessante é que ele percorre o caminho inverso de Eddie, ele é um bom garoto, um pouco encrencreiro e cheio de vontades, mas é um bom garoto, que se transforma em um escroque. De certa forma, o seu mestre não conseguiu passar coisas além de trapaças, como o valor do jogo e a honra, onde uma coisa é enganar em salões amadores, outra é fazer isso entre profissionais, onde mostrar o que sabe e a vitória é o mais importante.
Eddie Felson mesmo envelhecido ainda carrega um certo charme. E a sua personalidade básica do filme anterior, ainda está lá, e assim, para mim, ele é o personagem mais interessante do filme. Um Eddie, maduro que abandonou o jogo, provavelmente por causa de Sarah, mas ainda assim o mesmo personagem e com caráter. Há cenas interessantes, como a dele sendo trapaceado, é notável ver como as coisas se inverteram. Em certo momento, ele percebe o que realmente ocorre e faz a pergunta, você é um trapaceiro? Apesar de saber a verdade, ele ainda continua a jogar, aparentemente por orgulho. E essa derrota (dentre outras coisas) até que trás uma outra percepção a Eddie, ele envelheceu e precisa de óculos. Outra parte é quando ele desiste de um torneio e vai enfrentar Vince, recebendo elogios de sua namorada, que adora homens de caráter, isso me fez lembrar do primeiro filme, onde era necessário caráter para vencer certos oponentes, algo que Eddie possui .
A cor do dinheiro é um bom filme, é divertido de asssistir, mas é inferior a "The Hustler", que é bem mais denso, e é impressionante. Entretanto, vale a pena dar uma conferida para (de certa forma) descobrir o que aconteceu a Felson.O final também pode causar divergências de opinião, pois por um lado, é diferente e interessante, e reflete bem o Eddie, mas por outro deixa sem resolução ( ou cabe ao espectador imaginar) algo que muita gente esperava ver.
Não arrependi de dar uma chance a esses filmes de "sinuca". Principalmente  a "The Hustler" que é íncrivel e inquietante,  em relação "A cor do dinheiro", esse conseguiu matar a minha curiosidade de ver o destino de Eddie, dentre outras coisas, e é um bom filme. Assim, se alguém tiver a oportunidade assistam, principalmente "The Hustler", não liguem por ser dos anos 60 e preto e branco, pois é um grande filme, e grandes filmes, como esse, não envelhecem. 

2 comentários:

  1. The Hustler, realmente é um ótimo filme.
    Parabéns pelo comentário; Eu acho que se fosse a cores, perderia a essencia.
    Abraços.
    Vilson

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    Respostas
    1. Realmente é um ótimo filme, e o fato de ser preto em branco realmente combinou com a história. Obrigada pelo comentário.

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