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domingo, 5 de fevereiro de 2012

A volta das fábulas e contos de fadas

Como a maioria das pessoas, tenho contato com  fábulas ou  contos de fada, desde a infância. Aquelas histórias com animais falantes, princesas ( pois normalmente os príncipes não passam de coadjuvantes, não tendo nem mesmo nomes as vezes, haha), fadas, lobos,  seres místicos, crianças abandonadas  e etc, são universais e nunca conheci alguém que não conheça pelo menos uma fábula como chapeuzinho vermelho,  branca de neve, a bela e a fera, a bela adormecida, Cinderela, João e Maria, João e o pé de feijão, a pequena sereia, o patinho feio, os 3 porquinhos e etc. Seja através de livros (mal escritos ou não), quadrinhos, desenhos animados, filmes, ou por histórias contadas por parentes,  as crianças normalmente crescem cercadas por essas histórias.
Nos últimos tempos eu reparei num fenômeno, essas histórias tão conhecida também estão ganhado terreno entre adultos com seriados como Grimm e Once Upon a time ( também indicado para crianças), ou mais ainda com os quadrinhos fábulas (fables, com tramas bem pesadas) e  The  Lost girls ( que são histórias eróticas) que claramente não são indicada ao público abaixo dos 18 anos. Com essa tendência, resolvi ler os contos considerados originais. Ler alguns que eu não conhecia, e ver o que "realmente"  acontecia nos que já tive contato, afinal muitas das histórias que lia quando criança eram versões reduzidas, mal escritas, que tiravam acontecimentos importantes, e que muitas vezes seguia a linha politicamente correta e retirava parte da crueldade tão comum nelas. Bem, pelo menos, isso era um pouco menor do que atualmente,  já ouvi falar de livros e discussões como, por exemplo, contar a história da chapeuzinho vermelho, onde as crianças acostumadas com a violência, dentro ou fora de casa e na televisão, são sensíveis demais para que o caçador mate o lobo, sendo que este teria  em vez disso, ficar amigo do lobo-mau e ensiná-lo a ser bom. Quanta paciência, né? Agora as fábulas tem que mostrar um mundo perfeito e não mais apresentar uma visão fantasiosa de certas coisas  e lições de moral.
Acredito que para algumas pessoas os únicos autores de contos de fadas são os irmãos Grimm. Mas ainda bem que isso não é verdade. Pois na minha opinião, os seu contos  são narrados de forma superficial, como se fizessem um apanhado geral das coisas, um resumo, e que dessa forma ficassem lacunas nas descrições, contexto e motivações.Eles são os mais famosos escritores de estórias infantis, e por isso eu pensava que eles eram  mais talentosos, mas nesse quesito me decepcionei. Os Grimms nunca assumiram a autoria dos contos, esses foram retirados da memória popular com objetivo de preservar a cultura alemã. Eles realmente preservaram essas histórias,  mas como já disse, a escrita era um pouco pobre. Como por exemplo, quando li Branca de Neve, e a rainha espeta o dedo com uma agulha  e deseja um filho: "..Ahh, se eu tivesse um filhinho branco como a neve, vermelho como o sangue e negro como ébano..." A primeira imagem que veio a minha cabeça foi que ela queria trigêmeos e provavelmente de pais diferentes, hahah, já que ela queria um caucasiano, um negro e um ruivo. Haha, se não soubesse da história, e que essas cores referiam a pele, aos lábios e aos cabelos da criança, eu ficaria confusa, mas foi até engraçado pensar nisso. Alguns outros contos atribuidos aos Grimm ( que eu li)  são: A bela adormecida,  Chaupeuzinho vermelho, Rapunzel e João e Maria.
O francês Charles Perrault nasceu e escreveu os seus contos antes que os Grimm, e ele também não assumiu a autoria das  histórias, fazendo apenas uma compilação da cultura popular, mas em minha opinião ele era mais talentoso ao contá-las. Ele escreveu de forma mais profunda, sem tantos furos, sendo mais gostoso de ler, e seus contos são finalizados com lições de moral ( algumas podem ser consideradas estranhas na época atual, mas não deixam de ser belas e até engraçadas). E ahh, muitas vezes certas partes de algumas histórias são meio sem noção, me fizeram rir, me chocaram e até mesmo reli tudo para ver se era o que que eu tinha entendido mesmo. Ele e os Grimms  tem alguns contos em comum, sendo que eu li as duas versões de Chapeuzinho vermelho. Sou a mais a versão de Perrault que é mais bem escrita, mais verossímil, e além de tudo, me surpreendeu bastante. A dos Grimm é a mais conhecida, então deve ser por isso que não fiquei surpresa com ela. Também pude notar a grande semelhança entre João e Maria (Grimm) e O pequeno polegar (Perrault), é a mesma  história básica dos pais lenhadores pobres abandonando os filhos, e até aquela parte de deixar pedras e depois pão para reconhecer o caminho tem nas duas. Eu já as conhecia antes, é verdade,  mas nunca havia reparado em quão similar é o seu começo. Em relação ao "Pequeno Polegar" vou comentar mais outra coisa,  a parte  em que ele pede à mulher do ogro o resgate pelo marido,  há a seguinte justificativa para ela pagar: "...pois embora comesse criancinhas, não deixava se ser um bom marido." Sem noção, não? Haha.  Uma outra história que me deixou um pouco abalada foi Pele de Asno, onde a trama principal se refere a uma proposta de incesto, com o pai, um rei todo poderoso querendo se casar com sua própria filha e tentando convencê-la a aceitá-lo, cumprindo os seus pedidos "impossíveis". Aliás, essa história tem as suas similaridades com  outra estória de Perrault, Cinderela. Além dessas, eu  ainda li O gato de Botas e Barba Azul, essa última um tanto desconhecida e também bem cruel.
Há também Hans Christian Andersen, o escritor dinarmaquês,  ele assume que certas coisas que escreveu foram tiradas de histórias que ouviu em sua infância. Mas diferente dos outros, se declara o criador dos seus contos,  e realmente suas histórias parecem  ser, de certa forma, únicas. São mutas vezes tristes, poéticas e em última instância belas. Há críticas e acontecimentos bem reais, mesmo que em forma de fantasia, e uma visão condizente, podendo ser considerada verdadeira até hoje. Das suas histórias, o Patinho feio me pareceu a mais comum, talvez por que seja a mais parecida com as histórias populares, e também por já tê-la visto da forma que é apresentada no livro. A pequena vendedora de fósforo,  entretanto, pode ser olhada em outra perspectiva, triste, sem tantos elementos fantasiosos, bela e poética, é uma história curta, mas é devastadora, onde as coisas boas só vem com a morte, a esperança só vem com ela. E ainda mostra uma realidade feia que dura até hoje. A pequena sereia também é belísima, poética, com sentimentos de amor, liberdade e beleza, e claro, é triste, diferente da que a Disney mostra. Li ainda, "A roupa nova do imperador", só conhecia a parte final do "imperador está nu", o conto é delicioso, sobre a hipocrisia, e faz uma crítica voraz. Somente uma criança ousa falar a verdade que todos estão vendo, e que não queriam confessar com medo de serem criticadas. Esse é mesmo uma conto INFANTIL? Hahah. Andersen realmente é muito bom. E para mim, suas estórias estão entre as melhores. 
Os Grimms, Perrault e Andersen são autores mais associados aos contos de fadas.  Mas não foram  só eles que escreveram fábulas.  A bela e fera, por exemplo, não foi apresentada por nenhum deles. Li a versão de Jeanne-Marie Beaumont, tirando alguns eufemismos de que o amor verdadeiro não deve olhar a inteligência, a riquesa, ou a beleza, somente a bondade (também não é assim né?), é um história muito bonita e interessante, e coloca Bela com uma penca de irmãos (2 irmãs e 3 irmãos),  eu adoro o desenho da Disney,  e é bom reconhecer algumas diferenças, como ver a fera desde o início e todos os dias pedindo Bela em casamento.  Há ainda Joseph Jacobs,  que fez uma coletânea de contos populares ingleses, dentre eles João e o Pé de feijão e os 3 porquinhos.
No fim, achei interessante ler todos esses contos. Foi como uma redescoberta das histórias infantis, que  na sua maioria são cruéis, algumas bem escritas, outras  não, com lição de moral implícita ou explícita, onde  há alguns acontecimentos bem diferente dos que normalmente são contados.  Enfim, foram momentos divertidos e até enriquecedores, a verdade é que os contos comentados, são europeus, mas ainda há os brasileiros como os do  folclore, há os árabes como os da 1001 noites, os orientais e etc. Talvez eu ainda leia alguns de outras origens, mas de qualquer forma, já foi algo que valeu a pena, e eu já tenho uma base para analisar os seriados de contos de fadas e os quadrinhos fábulas. 

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