Eu sei que normalmente as pessoas lêem os livros e depois vêem
o filme quando é lançado. Mas comigo freqüentemente acontece o caminho inverso,
ou seja, é bem comum, eu ver o filme, me interessar e depois ler o livro ou
livros (sou cinéfila, né? Hahaha). Isso
aconteceu com “O manto Sagrado”, “Contato”, “A trilogia Millennium” e claro com
“Jogos Vorazes”.
Os livros da série Jogos Vorazes são: Jogos Vorazes, Em chamas e Mockingjay (A esperança, o título nacional, não parece nem um pouco com original e eu preferia que não tivessem traduzido). È
uma história onde grande parte dos personagens são adolescentes, a protagonista, Katniss Everdeen, tem 16 anos, por exemplo. Assim, o público alvo da obra são eles, os jovens. Mas como o
contexto e os personagens são muito fortes (pelo menos mais fortes e complexos
dos apresentados em obras do tipo), ela pode com certeza atrair outras faixas
etárias, me atraiu por exemplo.
No primeiro livro, somos apresentados a uma distopia, um futuro pós-apocalíptico,
onde o que restou dos Estados Unidos é Panem. Um país dividido em uma capital e
13 distritos, que abastecem a primeira com todo o tipo de luxo além de coisas
necessárias, sendo que a Capital, que não produz nada, apenas governa, e vive
com excessos. Mas há muita miséria, violência e injustiça nos distritos. No passado houve uma rebelião, e essa revolta
foi massacrada, o resultado é que o distrito 13 foi destruído, e cada um dos
outros 12 distritos restantes, como castigo, têm que enviar todo ano um garoto
e uma garota com idade entre 12 e 18 anos. Esses adolescentes são colocados em uma arena
e participam de um reality show, lutando por sua vida, apenas um sai vitorioso,
recebendo recompensa e glórias.
Katniss é uma garota forte do distrito 12, que desde a morte do pai
sustenta sua mãe e irmã. Sendo que essa última, ela ama com verdadeira dedicação.
As coisas se complicam quando sua irmã, que tem a idade mínima para ir aos
jogos é sorteada e Katniss se oferece em seu lugar. Junto dela vai Peeta Mellark,
um rapaz também de 16 anos, que se mostra apaixonado por ela. Os dois
têm como mentor, Haymitch Abernathy, o único vitorioso vivo dos Jogos
Vorazes e que é do paupérrimo distrito
12.
Assim, Katniss acaba entrando num jogo pela sua vida, onde
ela tem que fingir, fazer amizades e alianças, sendo no fundo todos seriam seus
inimigo e no futuro ela terá que
matá-los. O primeiro livro mostra a crueldade e hipocrisia dessa vida. Há muita
violência é claro, muitas mortes, e isso acontecer com personagens (crianças)
com quem nos apegamos. Katniss, que é uma lutadora, uma verdadeira
sobrevivente, acaba conhecendo as entrelinhas desse jogo, a política, a espetacularização
da crueldade, da morte e vida, a
ditadura e ao seu modo se rebela.
O segundo e o terceiro livros são bem mais políticos que o
primeiro, e realmente é surpreendente em uma obra para esse público. A opressão da Capital se mostra bem presente,
até na vida dos Vitoriosos. E claro, a
luta e uma rebelião contra essa administração começa. Mais personagens surgem e muitas vidas são
perdidas novamente. Pois essa história
não é um conto de fadas com final feliz. Na verdade, eu até achei o final
um pouco confuso, com uma sucessão de mortes de personagens queridos, e os que
restaram tiveram que remendar os retalhos de suas vidas.
Os personagens são muito interessantes. Katniss é uma garota
de personalidade forte e dominadora, tem suas fraquezas e dúvidas, mas é uma
baita personagem, sempre pensando nas coisas, balanceando os sentimentos e
sendo pouco emocional, é uma verdadeira sobrevivente desse mundo cão. Tem aquele triangulo romântico básico de
obras adolescentes, com a mocinha em
dúvida . De um lado há Gale, o companheiro de infância revolucionário de
Katniss, do outro Peeta, o garoto do
pão, que é muito bom com as palavras e ajudou Katniss em um momento muito difícil de sua
vida, sendo apaixonado por ela desde a infância. Há claro, os momentos românticos
nesse trio, alguns são bem melosos, inclusive. Mas Katniss mostra até uma frieza nesse assunto, e é legal ver que ela era não dada a arroubos
românticos e paixões à primeira vista devastadoras.
Haymitch Abernathy é outro personagem interessante, sendo um
adulto de meia idade, ele tem certas liberdades, vive bêbado, sofre angústias e
pesadelos terríveis. Mas é cínico, admira a liberdade que não tem, é extremamente inteligente, e se apega
bastante a seus pupilos. Fala diversas
verdades durante toda obra, apesar de bêbado, ele é a voz razão no livro, é o
mais consciente de todos. È um personagem
que eu gostei bastante.
O assunto do livro é sério e político, cheia de ideologias e
a busca das coisas básicas, essencias à vida, como liberdade, felicidade, amor,
companheirismo e igualdade. Panem é uma visão da humanidade que parece bem
condizente, não é difícil acreditar que no futuro os homens vivam como em
Panem. As críticas às crueldades, miséria, espetacularização das coisas e da vida íntima e cotidiana, reality shows, a corrida pela fama são
visíveis no livro, é como que o que vemos hoje no mundo nos levasse para
Panem.
Enfim, Jogos vorazes é uma série literária bem interessante
para adolescentes e todos, eu realmente
gostei de ler e o fiz com uma rapidez
incrível ( é, a narrativa me prendeu mesmo). Tem um conteúdo mais profundo que a maioria
dos livros publicados para a sua faixa etária alvo. Deixa uma mensagem, pode não ser tão profunda
como alguns queriam, mas mesmo assim, a achei suficiente, resta apenas saber se
os adolescentes que leram ,conseguiram
entender todas as críticas e
nuances, e compreenderam por que o final não podia ser um “e foram felizes para
sempre”, e que a história não se restringia a com quem Katniss iria ficar (como
foi exposto na mídia, Team Peeta Vs Team Gale).
Quem gosta de distopias e esse tipo de literatura: Admirável Mundo Novo e O senhor das moscas.
Quem gosta de distopias e esse tipo de literatura: Admirável Mundo Novo e O senhor das moscas.
Eu li Jogos Vorazes ano passado (com 14 anos) e peguei tudo que você citou, quanto a política e etc (não que todo o público da minha faixa etária o tenha feito, mas...), e acho que por isso Jogos Vorazes é a minha série favorita dessas "sagas" juvenis do tipo Harry Potter/Percy Jackson e afins, por não ser SÓ uma história que prende, por ter bastante coisa por trás. Eu queria ressaltar tbm a forma que é narrada a história, que é em primeira pessoa mas de uma forma muito... profunda? Não sei explicar, mas lendo eu me sentia realmente como se eu fosse a Katniss, foi um sentimento engraçado, diferente do que com qualquer outro livro. Isso fez eu me emocionar muito mais com a morte da Prim (eu -nunca- chorei com filme/livro nenhum, essa foi a única vez que caiu uma lágrima do meu olho), por parecer que ela fosse realmente minha irmã, quase dá pra dizer que eu me apaixonei pelo Peeta também hahahaha.
ResponderExcluirFico feliz que tenha conseguido pegar os nuances políticos e sociais de Jogos Vorazes, penso que não são todos que pegam, principalmente os adolescentes para qual a saga é direcionada, e imagino que essa deve ter sido a intenção da autora, mostra algo mais, e com esse algo mais é bem melhor apreciá-la. Eu também adoro histórias em primeira pessoa, tanto que quando escrevo (fanfics principalmente) dou preferência a essa forma... Realmente fica mais intimista e nos faz "sentir" como a personagem, só que na segurança e não no meio de uma arena. Demorou para eu responder, mas de qualquer forma eu adorei o seu comentário, obrigada pela atenção ;)
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